quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Há vida após o câncer!

 

Vira e mexe ainda em 2020 eu me deparo com alguém dizendo "fulano está passando pelo câncer e está lendo o seu blog", as vezes tenho notícias do processo, outras não. 

Eis que nunca mais voltei aqui para dizer como estou, mas a volta foi espontânea e como deveria ser...hoje senti a necessidade de escrever, de pensar em tudo o que vivenciei, a som da trilha sonora internacional da novela Mulheres Apaixonadas, apesar do blogger ser uma ferramenta datada e de querer estar em uma fase de menos exposição pessoal. A gente precisa tomar uma certa distância, das emoções, das angústias, do medo do futuro...e se jogar. Precisamos as vezes do silêncio para quebrar os muros que ainda encontramos no tempo da remissão do câncer, muros que para mim foram mais densos de quebrar do que na fase latente do tratamento. E eu dei foi muita porrada, um processo único pra cada um. Não sei vocês que passaram por essa experiência, mas com o tempo vamos adquirindo novas ferramentas que ajudam a socar esse muro.

    Estou oficialmente curada pelas mãos da ciência médica desde 23 de maio de 2019. O sino tocou, fiz festinha e desde então esse barulho que veio de repente me despertou, me reconstruiu novamente, pois 2019 não foi um ano fácil para os sonhadores! Encontro-me em uma fase bem gostosa da vida, apesar de toda essa pandemia, das tristezas pessoais e outros problemas de saúde que passei (nada a ver com o câncer) e das coisas doidas que parecem que só acontecem no fantástico mundo de Marcelle ou dos capricornianos. 

    Como foram esses anos? Em 2014 eu fiz o Enem no auge de um protocolo de quimioterapia e carequíssima. Passei e fui estudar na Universidade Pública e de qualidade que me salvou, tudo pelo SUS, a minha amada UFRJ. Me formei no início de 2020 em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação, à um dia da pandemia ser declarada oficial. Os últimos dois semestres de Biblio, eu cursei junto com o início do mestrado, pensa na pauleira. Hoje estou a vias de qualificar, no mestrado em Ciência da Informação, por esta mesma casa pelo IBICT/UFRJ. Me joguei nessa nova profissão, recomecei do zero, e com ela viajei pra lugares lindos, apresentando trabalhos que ganharam até prêmios internacionais. Aprendi que informação salva vidas e que a minha foi uma delas!

    Durante esses anos de mais perguntas do que respostas, não foi fácil lidar com tantos medos. Eu iniciei 2014 com um estigma de pensamento, no qual imputava a mim que eu nunca mais iria me realizar profissionalmente, pois havia perdido tempo. Nós perdemos muita coisa com o câncer, mas eu coloquei na minha cabeça, apesar desse atravessamento de sentimentos, que seria uma construidora de pontes para novos sonhos, então tem ganhos também! Hoje consigo ver tudo o que eu não via até o ano passado, reconhecer que lutei e ganhei, que venho fazendo a minha estrada. Sou árdua defensora de que "Tem vida pulsando e não sobrevida"!  

    O meu sonho é esbarrar com as pessoas que passaram na pele por esta mesma situação do câncer em 2014 e daqui à 15, 20, 30 anos continuar todo mundo curadinho. De ver as suas trajetórias de vida pulsante...é tão difícil saber dessas pessoas que já estão na posição de anos a frente, não pela doença em si, mas porque não falam sobre isso, foram educadas por um sistema a não falar...e por isso resolvi escrever aqui como estou e dizer pra vocês que a vida pulsa, mesmo dentro de casa na segunda quarentena da minha vida.

    Falei para um "amigo de destino" essa semana, ao ler a escrita da sua jornada pessoal, e ver as semelhanças até com o "escutar as músicas do É o Tchan", que com o tempo vamos arrumando as essas sensações que a experiência do câncer causa dentro de nós. Eu bibliotecária e catalogadora de rolhas de vinho da pandemia nas horas vagas (risos) digo assim. Nós vamos colocando as emoções nas estantes do nosso "eu", criando acervos, as vezes com número de chamada, metadados e tudo... e vamos conseguindo acessá-las de uma forma mais amigável. Uma força maior, que pra mim é Deus, coloca nos detalhes a energia para superar todos esses momentos difíceis da vida. Eu não sou mais a Marcelle que há seis anos atrás começou a escrever esse blog, quatro dias após a descoberta do câncer. Contudo, carrego todas essas experiencias e trocas dentro de mim!

    Hoje eu consigo me olhar no espelho e me reconhecer frente as transformações que o meu corpo sofreu. Olhar para dentro de mim e começar a dançar com meus novos sonhos e propósitos de vida. Foram transformações que levaram consigo a identidade que eu havia construído para mim até os 24 anos e que achava sem me dar conta de que poderia ser imutável. Precisei me reconectar com o meu eu mais profundo, a minha essência, abandonar velhos hábitos...que bom que me deixei transformar por esta realidade de me reconhecer imperfeita, suscetível à vida, de reconhecer que ela chega e derruba planos e formas de controlá-la...e que mesmo tendo toda uma forma de catalogar derrubada...que tá tudo bem...que posso recomeçar e buscar novas formas de classificar a minha história.

    O matemático e bibliotecário Ramamrita Ranganathan disse uma vez que "a biblioteca é um organismo em crescimento". E penso que assim são as nossas "estantes", que não deveriam ser estanques aos processos. É preciso atualizar as coleções, acompanhar o tempo, os seres em movimento. Olhar pra natureza em movimento é entender a vida e ressignificar essas estantes ... Sentir o sol na pele com vigor, o cheirinho de terra molhada, ver as estrelas, os pássaros que voam (tipo as andorinhas da minha janela)... sentir o vento, que no inverno não é o mesmo que no verão ou outono... e que muito menos é igual ao da primavera... Não deveríamos ter esse receio de voltar atrás ou ir rumo ao novo...de reconhecer o erro, de acertar, de perder e até de ganhar.


Olha, quando criança eu tinha medo de andar de bicicleta. Mesmo colocando ela encostada na parede pra conseguir alcançar e sentar, ou com a ajuda das rodinhas eu consegui. Cara, eu lembro como se fosse hoje aquele momento da liberdade, do primeiro equilíbrio sem as rodas, e meu pai dizendo vai tô aqui atrás...e eu já longe e ele lá parado sem ir atrás de mim...e eu morta de medo.


Antes do câncer eu tinha muito preconceito com gatinhos, não entendia quem os tinha como bichinho de estimação... e hoje apresento a minha Nininha um amor de "cachorra".


Nossa eu morria de medo de ser jogada no vento pra me virar em uma terra estranha e sozinha...de vergonha de pedir para baterem foto! Olha eu expondo a figura na medina.
 


E é isso, quem sou eu, mas a vida é movimento...está escrito no vento, espalha aí, também há vida após o câncer!

 


quarta-feira, 29 de março de 2017

Viajar a dois! Cartagena.

Olá corajosos,
Passado tudo o que vivemos, em fevereiro de 2016 decidimos fazer a nossa primeira viagem internacional para celebrar na época 1 ano e 3 meses sem quimioterapia. Nosso destino escolhido após muita pesquisa foi Cartagena das Índias, uma cidade colombiana margeada pelo mar do caribe. Um lugar que nos surpreendeu, pois exala cultura e muita paixão. É uma cidade charmosa que encanta por suas ruas coloniais cheias de mistérios e completamente aromáticas. Em cada esquina vemos o colorido das frutas, das flores, das casas e o canto dos pássaros. Foram sete dias vendo o pôr-do-sol mais lindo!
Fizemos o voo pela copa airlines, com conexão no Panamá tanto na ida quanto na volta. Uma dica que dou para matar o tempo da espera (o nosso foi de 7 horas na volta por exemplo) é conhecer um pouco a cidade, já que eles permitem sair da área de embarque. Não fizemos isso, mas as pessoas que fizeram adoraram. Puderam conhecer o famoso canal do panamá e shoppings com preços mais acessíveis que os das lojas do aeroporto. Prepare o dólar para usar no Panamá e nunca vá lanchar na primeira loja, pois os preços são de lascar. Pesquise! Também prepare o dólar para Cartagena, pois grande parte das lojas de artesanato e das famosas esmeraldas só aceitam esta moeda. Pechinche, embora lá não seja essa a cultura, pois os preços são abusivos e logo querem te empurrar as coisas.
Para visitar tanto o Panamá quanto a Colômbia recomendo terem passaporte em mãos, pois facilita a sua vida e é a primeira coisa que eles pedem. Outro fator que também não é obrigatório, mas recomendável é a vacina contra a febre amarela. Para nós que passamos pelo câncer não é recomendável tomar essa vacina, pois é de vírus vivo. Contudo, há no site da Anvisa informações para a retirada do certificado de quem não pode se submeter a essa vacina. Ou seja, podemos sim conhecer lugares em que a vacinação contra a febre amarela é obrigatória. É questão de conversar com o seu médico e pedir um laudo informando o por quê você não pode tomar a vacina. Mesmo não sendo obrigatório tentei retirar este certificado para testar, mas a Anvisa do Rio de Janeiro e os postos credenciados são completamente desorganizados e não consegui a emissão, mesmo com o laudo em mãos. 
Em Cartagena, escolhemos nos hospedar dentro da Cidade Amuralhada no simples e simpático Badillo Hotel. Queríamos um hotel com um bom custo benefício e que tivesse piscina, pois o calor de Cartagena é forte. E o Badillo nos atendeu muito bem. OBS: O café da manhã em Cartagena não é regado, isso é um padrão de lá.

O centro histórico de Cartagena é cercado por uma antiga muralha que tinha como função proteger a região contra ataques estrangeiros. Ela é formada por quatro pequenos bairros: Centro, San Diego, Matuna e Getsemani, e concentra alguns dos principais pontos turísticos da região - entre eles o Palácio da Inquisição e a Torre do Relógio. Dentro das muralhas está quase toda a parte antiga de Cartagena, com suas ruas românticas e edificações antigas. A muralha é um dos pontos mais importantes de Cartagena e rende uma ótima caminhada no fim de tarde, quando o sol se põe sobre o mar. Não deixe de caminhar por suas pedras, conhecer seus baluartes e tirar muitas fotos! Aqui ficamos perto de tudo e quase não precisamos gastar com transporte. 
No primeiro dia fizemos um tour de táxi com um conhecido e fomos conhecer os locais fora da muralha, tais como: O Castillo de San Felipe de Barajas, um forte muito charmoso e a maior obra militar espanhola no continente americano com construção datada de 1536. A entrada custa 17.000 COP pesos colombianos (R$18,00) e se você estiver com sua carteira de estudante brasileira paga meia; o Convento Santa Cruz de La Popa (entrada 8.000 COP), que é uma cena de filme! Um mirante que nos altos de seus 148 metros mostra uma vista panorâmica da cidade. Além disso, possui um prédio erguido do século XVI e a Igreja da Candelária que recebeu a benção do Papa João Paulo II em 1986; Também fomos ao bairro Boca Grande que contém as praias mais próximas.

Por falar nas praias, apesar de ser banhada pelo caribe as praias principais de Cartagena são de água e areia escuras e me lembraram muito a praia de Iracema em Fortaleza. Todavia, há passeios de lancha para o arquipélago das Islas del Rosário que ficam mais ou menos 1 hora de distância de Cartagena, de lancha rápida, e quase 2 horas de barco. Lá você poderá encontrar águas azuis e clarinhas. Escolhemos passar dois dias no arqupélago, no pacote day use. O primeiro dia foi no Hotel Gente de Mar que fica na ilha Isla Grande (175000 COP + 14500 COP (taxa portuária)) e no segundo dia ficamos no Cocoliso Resort (105000 COP + 14500 COP). Ambos foram passeios que faríamos de novo. Chegar nessas ilhas é tranquilo, nunca tinha visto um pelicano e é lindo observá-los caçando. Mas, a volta é uma aventura, pois a maré sobe e você vai o caminho todo chacoalhando e fica completamente ensopada com as ondas. Não é brincadeira quem tem medo de navegar em mar aberto é melhor não ir!!! 
Isla Grande - Arquipélago do Rosário

Já as praias da cidade apesar de agradáveis são completamente tomadas por vendedores ambulantes, não há aquele costume de estender uma canga na areia e ser feliz como aqui no Rio. Lá do momento em que você sai do táxi, eles vão te bajulando até você ficar na barraca deles. Não fizemos isso, estendemos a canga mesmo a revelia, pois não queríamos sombra, consumimos e tudo ficou certo. Agora você deve ter cuidado é com as moças que fazem massagem pela praia que se chamam popularmente de "las negritas". Elas te abordam sem seu consentimento a fim de fazer massagem...não deixem nem por um decreto que elas toquem em você (a não ser que você queira fazer a massagem)...sim elas irão te tocar mesmo sem seu consentimento...tive que dizer um NÃO bem grande, pois a moça puxou o meu pé. O simples fato delas tocarem em você dá o direito a elas de te cobrarem mesmo sem fazer a massagem e mesmo você não querendo. Após o não elas ainda ficaram encarando e falando para o dono da barraca...ei você não vai fazer nada quanto a isso? A fim de fazer barraco. Ainda bem que o dono era simpático. Eu juro que nem olhei na cara delas e já foi assim. Conversando com um morador local que estava do nosso lado ele disse que achava isso um absurdo, eles tem que aprender que é você quem deve os solicitar não eles a forçarem isso, dizia o senhor. Por toda a cidade é assim, eles te oferecem um sombreiro mesmo você estando com um na cabeça. Só o fato de você querer perguntar o preço eles já estão a embrulhar para a compra. Isso revela o quanto dependem do turismo para sobreviverem. É muito bom poder ajudar, mas as vezes é angustiante por sermos abordados a todo momento. 

Praia de Boca Grande - centro de Cartagena

Existiam outros passeios como por exemplo visitar Playa Branca, o oceanário e mergulhar com os golfinhos, mas são passeios muito rápidos e os operadores quase não te deixam aproveitar com calma. Outro lugar exótico é conhecer o vulcão El Totumo e tomar banho de lama medicinal, mas pelo passeio tomar um dia inteiro para ir e voltar preferimos não ir. Também tem como combinar Cartagena com outros lugares da Colômbia como Medellin (os colombianos amam), Bogotá (cidade mais fria), Santa Marta, Barranquilla (cidade da shakira), Parque Nacional de Tayrona e a Ilha de San Andrés (mar de sete cores) que era o nosso primeiro de destino, mas trocamos.

Foi uma escolha inesquecível. Quando tudo passar faça isso comemore e viva!

quinta-feira, 9 de março de 2017

Numa galáxia muito, muito distante...



Faz um tempo que não venho aqui, minha última postagem foi sobre cabelo e confesso que ele está enorme e ainda com cachos.





Como anda a saúde? Vai bem, obrigada! Fazem 2 anos e três meses que estou em remissão da doença. 
Ontem me perguntaram algo que sempre perguntam: 
-De todas as fases do seu tratamento qual foi a que mais mexeu contigo?

Eu poderia fazer uma ode dentre tantos sacrifícios, dores, palavras más e sem fundamento que me deram (sim, ainda tem aqueles "seres lindos" que vem te botar pra baixo por quererem tentar achar uma explicação pra isso ter acontecido na sua vida, como se fossem autoimunes) e tantas perdas, mas eu devo confessar que a pior parte foi o depois do tratamento. 

Tenho certeza que você que já passou por isso entende e acompanha o meu raciocínio. Quem não faz ideia... não fará ideia mesmo do porque foi o final! Adianto que sou extremamente feliz por ter conseguido apresentar bons resultados até aqui...nossa aprendi que amo muito a vida, que ela é preciosa em todos os momentos! Torço e confio horrores na minha cura e continuo buscando a alegria!

No período do tratamento estava com aquele fôlego danado, com aquele preparo emocional de atleta pra tentar derrubar todos os obstáculos... no entanto, depois quando tudo acabou fiquei sem chão! Precisávamos saber se tudo tinha dado certo! Foi como tatear no escuro, a cada exame era um novo clarear. Que medo dá ao perceber que estamos no escuro! Na verdade a dor nos faz enxergar, traz à luz aos nossos olhos, que com ou sem doença não temos controle de nada! Quando estamos no automático não percebemos isso. 

E de lá pra cá tudo vem dando certo até hoje! A cada dia tento me reerguer dessa porrada! Larguei tudo, pois queria mudar, já que tudo mudou... Quando terminou minha licença me demiti, visto que na época do tratamento fui fazer, dois dias depois de uma quimioterapia, o vestibular. Passei e ingressei na faculdade novamente, por conseguinte venho me agarrando nessa oportunidade de recomeçar. Todavia, muitas perguntas ficam na nossa cabeça... por mais confiança que tivermos é natural passar pela nossa mente pensamentos como: até quando? Nossa o tempo passou e minha vida não ganhou o destino que eu havia planejado! Caramba quero voltar a ter uma rotina de trabalho pra já e nada acontece! Será que vou ter uma recidiva? Será que vou ser mãe algum dia? Que monte de sucata!

Estar consciente dos seus pensamentos é um dos presentes que o câncer traz e vencê-los ou aproveitá-los é tarefa árdua, mas feliz! Esses são os seus primeiros passos, não deixar que os sentimentos pessoais atrapalhem o seu caminho. 

No final de 2016  me deparei com um incômodo no arco costal novamente...Desde que tudo acabou muda o clima e a dor aparece, só que com esse calorão ela se tornou um pouco mais intensa que o de costume. Meus exames clínicos estavam ótimos! No entanto, comuniquei aos meus médicos e eles sempre tão confiantes falaram que não era nada, mas como era um dia antes do Natal para eu passar o fim de ano mais tranquila que fizesse uma ressonância e o PET, para desencargo de consciência. Aquela famosa história do ver para crer! Me deu aquele medo e não fiz! Pra piorar no meu aniversário do nada meu cachorro ficou com um inchaço na garganta que parecia um sintoma de linfoma...ver isso ativou coisas ruins, justo neste dia. Era uma infecção no bichinho que foi tratada... e em mim continuava aquela ansiedade. Resolvi que em março iria começar fazendo a ressonância e fiz.

O que eu pensava? Gelei! No dia que fiz o exame me deparei com uma situação de um jovem que me lembrou a minha pessoinha na fase de descoberta do câncer... ele foi pego de surpresa, mas estava firme como se não fosse com ele e mãe dele desolada. Foi uma sensação indescritível, aquela mãe olhava dentro dos meus olhos fixamente chorando eu queria poder dizer no olhar que tudo ia ficar bem. Meu exame atrasou muito por causa da situação do menino, dado que ele ia ter que biopsiar. Eu fiquei chateada por ver uma pessoa tão cheia de vida, que aparentemente não tinha nada, ter que passar por isso. Eu revivi em alguns minutos a dor dele, mesmo ele estando tão forte. Aquilo mexeu comigo, me quebrou no momento! Tenho certeza que que aquela força dele foi o melhor começo, já foi a melhor arma contra qualquer diagnóstico.

Aí eu lembrei dessa frase "através da força eu ganho poder e através do poder eu ganho a vitória. Através da vitória as minhas correntes são quebradas" 

Entrei pra fazer o exame e como sempre uma saga digna de star wars pra tentar ver uma veia pra pulsionar...A enfermeira dizendo:
- Não tem nada no braço!
- Ai que bom, disse ela depois de três retornos de Jedi... achei na mão, mas vai doer! E eu disse:
- Princesa Leia que dor? Isso pra mim não faz nem mais cócegas risos... E depois ouvir um "Eu consegui, mas não se mexe por 40 min!" 
Entra no tubo, escuta barulhos ensurdecedores que parecem que irão te abduzir, respira e solta o ar várias vezes e se sente como:



Sai do tubo e vira um Chewbacca ambulante, uma vez que as enfermeiras como sempre não entendem como fui ter um Linfoma de Hodgkin no 5º arco costal e ainda por cima me chamar Marcelle Costal.


Aí sentamos todas juntas e fazemos um café pra eu explicar a história!

Finalmente chegou o dia de abrir o exame, e o santo médico (sim, pois médico é o nosso anjo da guarda) disse que não tem nada! E ainda por cima que meu 5º arco costal, não tem lesão e nenhum sinal de que o osso passou por tudo o que passou. A lesão que era esperada,  e mesmo assim se tivesse seria normal, não existe! 

Sou outra pessoa depois desse exame, mais confiante e livre...Hoje numa galáxia muito, muito distante com dois anos de afastamento do período de tratamento, me encontro mais preparada para ser humana e falar sobre o temível depois a quem vem me perguntar. Pra dizer a você leitor que a doença nunca foi um fracasso e sim uma realidade! Já dizia o filme "Você não pode impedir as mudanças assim como não pode impedir o nascer do Sol", por isso me despeço com essa frase do mestre Yoda "Difícil de ver sempre em movimento está o futuro!"


(STAR WARS)



terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Todo dia 16 é dia...um ano de cabelo!

Olá corajosos!

Dia 10 de dezembro completei meu um ano sem quimioterapia! Eu renasci nesta data, pois a possibilidade de viver bem foi posta na mesa de novo! Todos os exames estão bons e completei assim meu primeiro ano da remissão!

Como eu me sinto quando estou vencendo meu primeiro ano da remissão!


Tá vai tá mais pra essa daqui em ritmo de natal e com o mesmo cabelinho!




E hoje encerramos o meu ciclo! Como o prometido a evolução de um ano de cabelo após a quimioterapia!
É devastador o sentimento que me toma hoje! Algo tão natural é o sentimento de ter um cabelo. A cada fase da nossa vida nos reinventamos com um novo corte, novas cores ou penteados. Cortar o cabelo, pentear, colorir é mudar e ir expressando para mundo a sua identidade para cada ocasião. Sempre entendi que o cabelo é importante para uma mulher, mas fui forçada pela vida a compreender que não é tudo sobre ela! Cabelo cresce? Sim! O importante é a sua cura? Claro! No entanto, por mais que essa fase de não ter como contar com o cabelo fosse tranquila, pois me adaptei muito bem, não foi fácil! Passei por uma tremenda mudança de mentalidade para aguentar a vida sem cabelo. Era horrível ter que lidar com alguns olhares feios na rua, seja de pena, de medo de ter câncer, seja do que for! Felizmente tive a sorte de poder trabalhar essa ideia, de conviver numa boa sem cabelo, comigo mesma, mas existem pessoas que ficam com o emocional tão abalado que não conseguem ter que resolver mais esta questão dentre milhares. Poderia ser eu a estar assim! Graças a Deus não tomei esse rumo. Gente quem fala que cabelo não importa nesse momento não sabe o que diz! Essa fala, por mais que você pense que vá agradar angustia a pessoa. Insiste em me dizer que o que importa é a minha cura? Convido a raspar o seus cabelos então! A aguentar as piadas na rua! Não foi  fácil para a Carolina Dieckmann raspar o cabelo sendo bem paga por um papel de novela, por que seria para mim que fiz de graça pela vida?


 Eu lembro que em uma entrevista na época da novela ela disse que embora não tenha estado triste no momento ela tem vontade de chorar toda vez que vê! Conseguem ter vagamente a ideia do que é? Não!

Como foi pra a Celle perder os cabelos? 
Eu estava tão triste quando percebi que já não tinha quase cabelo nenhum e parecia tanto com o smigol do senhor dos anéis, que mesmo com a doutora tendo me aconselhado a não raspar, para não debilitar mais ainda minhas defesas e atrair infecções...fiz e me senti libertada, renovada, outra pessoa...linda e maravilhosa! Meu sorriso até ficou mais sincero, aberto! Meu olhar ganhou aquele brilho de novo!




Foi diferente do que costumam passar para nós nos filmes e novelas. Foi um alívio tirar aquele cabelo morto! Até sorri com gosto!

Então a evolução  de 12  meses sem quimioterapia é essa:






Cabelo Cresce! Sim. A vida volta ao normal? Não! 
Você sai desse turbilhão outra pessoa! Você se digere melhor, passa a se conhecer de verdade e a ser uma pessoa de fato mais consciente das atitudes. Você fica mais sensível às coisas que ninguém enxerga e dá valor ao insignificante, pois sabe que é aí que moram as coisas mais bonitas. Seu estado de espírito fica mais alegre diante das adversidades da vida, pois qualquer mínimo problema, que antes você precisava de um exército de força emocional pra resolver, não é nada diante das questões que você teve que lidar (como manuais práticos de como não perder a vida por uma gripe, por abraçar pessoas, por fazer a unha, por depilar as pernas, por ir a missa, por ir ao cinema, por frequentar aglomerações, por tocar em lugares públicos e levar a mão na boca por comer besteiras etc. e tal.). Você consegue entender melhor o outro e as suas questões para melhor ajudá-lo. Todavia, infelizmente você aprende que nem todos vão travar batalhas sinceras por você...nem todos irão cuidar de você, nem todos estarão com você de fato. Verá que muitos falaram que estiveram te dando apoio quando na realidade dá pra contar nos dedos quantas vezes vieram te visitar, ou quando nunca vieram, e só disseram isso para satisfazer seu ego, pra usar a sua doença e sair como bom diante das boas aparências, por benefício de algo...mas e daí? No fundo você sempre soube... e o que importa? Você aprende a sorrir para elas de volta, mas a nunca mais deixarem que elas te roubem de você...que elas te suguem, que elas manipulem você para fazer o que querem! Você aprende a não dar importância a essa dor que antes da doença era tão latente, pois você tem os melhores do mundo do seu lado...Deus, pai, mãe, irmã, marido, vó, tios, tias, primos, alguns poucos amigos... as pessoas que deram tudo que podiam por você, pra tirar nem que fosse um sorriso do seu rosto, ou da cara dos que estavam sofrendo de perto, que mesmo sem estarem doentes fizeram todas as quimioterapias junto com você! As pessoas que fizeram isso por meus pais, irmã e marido são as melhores do mundo, pessoas que a gente nem espera! Há os bons amigos, os que realmente ficam que te surpreendem com tanto amor e há as pessoas que só de olhar criam laços de amizade sinceros! Você passa a lutar pelas coisas que realmente fazem sentido e são necessárias à vida. E essas são as coisas que dão o amor! Por elas é que você deve lutar e gastar a sua vida! Um tesouro escondido que se revela melhor quando você descobre a senha, tal como a lagarta que saiu do casulo, virou borboleta e num mesmo piscar de olhos bateu asas e voou rumo ao belo. Assim é a vida e não deixe de passar por ela sem se conhecer!
Que essa fase sempre me faça lembrar que é possível a metamorfose quantas vezes for, e que começar do zero é custoso, mas lindo e maravilhoso!


A vida precisa do vazio:
a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta.
A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida.
Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito.
E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas.
A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio.
Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar.
São umas chatas quando não são autoritárias.
Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar.
A essas pessoas é fácil amar.
Elas estão cheias de vazio.
E é no vazio da distância que vive a saudade...
Rubens Alves     



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Todo dia 16 é dia. Como definir os cachos?

Olá corajosos!

É o meu penúltimo post mês a mês sobre a fase cabelinho pós quimioterapia. Sim está dando quase um ano de cabelo nas ventas! São 11 meses sem quimioterapia! Só quem sabe o que é ter quimioterapia nas veias entende do que estou falando! Se você acha que imagina? Não você não sabe o que é sentir isso na pele! E temos que comemorar esse renascimento que é o último dia de quimioterapia! 

Esse mês depois de muita insistência da minha irmã, fui lá fazer a chapinha de novo para avaliar o comprimento do cabelo. E percebi como ele está grande! Você que pode estar na mesma fase que eu deve estar pensando: 
- O de todo mundo cresce e o meu não cresce!
Fique tranquila eu também tenho essa mesma sensação...falo que nem um papagaio sobre isso aqui em casa e ninguém aguenta mais as minhas lamúrias. Eu sei que está grande, mas ao mesmo tempo tenho a impressão que está muito lento o crescimento! Vê se pode uma coisa dessas? Vamos ter paciência que ele vai crescer do jeitinho que sempre sonhamos, se não crescer temos muitos recursos por aí para nos ajudar, pois estamos no século XXI!

Então com a chapinha meu cabelo está assim:


Contudo, no dia a dia permaneço com ele nos cachinhos e a impressão fica diferente.



Para deixar os cabelos com cachos mais firmes e definidos eu uso dois produtos sensacionais. Um é o ativador de cachos Control wave da vizeme. Passo sempre após o banho e aperto os cachos em um movimento de cima para baixo. Fica bem resistente no cabelo e com um aspecto natural. Muitas pessoas usam também para dar aquele aspecto de cabelos de verão como o da Gisele Bündchen. Este ativador custa em torno de 27 reais nas lojas de cosméticos e é uma opção mais barata com o mesmo efeito. O outro produto é para quando quero sair e não dá tempo de lavar o cabelo ou quero dar um visual especial. Estou falando da Mousse modeladora charming da Cless Cosméticos. Eu uso a fixação normal, mas existe mais duas opções a forte e a extra forte. O produto custa em torno de 20 reais nas lojas.


E rumo aos meus 365 dias sem quimioterapia!!

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Todo dia 16 é dia! Óleo de coco!

Olá corajosos!

Esse mês descobri algo que super funcionou para abaixar a rebeldia dos meus cabelos. Sim! Já está quase dando um ano de cabelo e meu Chanel ainda não chegou! Além de ter cortado o cabelo umas 3 vezes ele também encaracolou e "encolheu" neste tempo. Alguns resultados de crescimento só passaram a ser perceptíveis quando passo chapinha.
Eis que surge o óleo de coco na minha vida! Receita antiga, mas que a pessoinha que vos fala só soube agora. E meu cabelo virou um camaleão depois dele. Tem dias que está com os cachos definidinhos e dias que está mais liso. Todavia, o resultado final foi espetacular! Macios, cedosos, e mais controláveis.



O óleo de coco é cheiroso, eficaz e cheio de vitaminas! Devido ao alto teor de ácidos graxos ele penetra no eixo do cabelo de uma forma incrível. Outros benefícios são: sela as escamas dos fios, suaviza aquele aspecto seco e opaco que o cabelo nasce pós quimioterapia e dá um banho de brilho. Pode ser utilizado em todos os tipos de cabelo! Minhas amigas não aguentam mais passei um dia inteiro falando do óleo de coco. Igual o Buba do filme Forest Gump falando do camarão!
óleo de coco pro cabelo, óleo de coco pra remover maquiagem, óleo de coco pra pele...ao infinito e além!
E melhor!!!
– Se seus cabelos forem crespos, eles se tornarão ondulados, brilhosos e com aspecto saudável.
– Se seus cabelos forem cacheados, os cachos se tornarão hidratados e bem definidos.
– Se os cabelos já forem oleosos, aplicar apenas nas pontas, descartando o uso na raiz.
Como faço?
Coloque vinte gotas de óleo de coco para cada colher de sopa da máscara capilar que você costuma utilizar. Misture bem e passe no cabelo. Espere de 30 min à duas horas (dependendo da paciência). Use touca térmica para potencializar o processo. A aplicação deve ser feita em até duas vezes a cada quinze dias, dependendo do tipo de cabelo.
Usar essência de alecrim e lavanda misturados com o óleo de coco também é uma boa! Aliás meu shampoo natural de jaborandi leva alecrim e é bom demais!
Qual comprar?
Compre o óleo de coco extra virgem. Ele é natural e pode ser utilizado em diversas outras coisas. Costuma ter uma faixa de preço de R$30 à R$60 reais. É mais fácil de ser encontrado em lojas especializadas em produtos naturais.
Existem outras alternativas encontradas nas farmácias e perfumarias, tal como o Óleo capilar de óleo de coco que está na faixa de preço de R$ 6 à $15 reais. São menores e a eficácia não é tão a mesma se comparado ao natural. Não são naturais por conterem Óleo mineral, Parafina líquida ou Petróleo. Isso por que esses agentes criam uma capa no fio, impedindo que qualquer nutriente ou até mesmo a água penetre no fio. Por isso, procure utilizar sempre óleos 100% puros. Pode ser óleo orgânico também, sem problema.
Mega sorridente e gordinha!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Todo dia 16 é dia. Fase Betty boop!


Olá corajosos tudo bem?

Meu cabelo está naquela fase super rebelde!


Você pensa que com o tempo ele vai melhorar? Sim se desespere, pois ainda vai piorar! Brincadeiras a parte, o importante é que ele está aqui! Isso é sinônimo de que não precisamos mais de quimioterapia. Por isso agradeça todas as manhãs olhando para  a juba de como ele fica quando você acorda... Sim faça esse ritual! Sempre tive cabelo liso e na infância ele era assim super escorrido! Nossa como eu era triste, pois pedia a Deus pra ter cachinhos no cabelo igual o das minhas amigas! 

Se parar pra pensar na vida, a textura do meu cabelo por mais tempo foi assim tipo igual o da Presença de Anita. Gente é a textura viu? não tenho nada de parecido com ela!


Diante dessa dificuldade de não saber lidar com o cabelo cacheado que eu tanto pedi a Deus e que a vida resolveu me dar a essa altura do campeonato, passei a secar mais o cabelo com o secador e de vez em quando passar uma chapinha. Mas tenham calma, não vai se achando não!!! Pois os fios ainda estão muito novos e finos e você pode correr o risco de ficar com o capelo espigado e queimado assim!




Nossa e por detrás dos cachos como notei que ele cresceu!


Naturalmente ele fica assim e acho que estou na fase Betty boop..ai que saudade da fase Elis Regina!



Bem é isso pessoal me convidem para festas a fantasia que já sei como vou!